terça-feira, 26 de julho de 2011

Poema de Protesto

O dia de João

João acordou cedo
Às cinco horas da manhã
Comeu pão com margarina
E Bebeu café preto, com açúcar branco
Saiu, tomou chuva na parada de ônibus
Não havia teto nem bancos para sentar
Pegou o ônibus
Uma hora em pé
Desceu, foi para a segunda parada
A chuva parou, veio o sol
Os braços doíam, de carregar suas ferramentas pesadas
Pegou o segundo ônibus
Quase ao descer, sentou-se por cinco minutos
Ah, que alívio
Logo desceu
Caminhou por quinze minutos
Chegou ao trabalho
Virou massa
Ergueu tijolos
Cortou-se com o serrote
Perdeu a lucidez por se expor horas ao sol
Aí parou para comer
Dez minutos, a vianda fria
Voltou para o trabalho
Fez tudo de novo
Já estava escuro
João guardou as ferramentas
O corpo doía
A cabeça doía
As mãos não sentia
Sujo e fedido
Cansado e cortado
Enrudecido e humilhado
Foi-se embora
Tudo de novo, nas paradas de ônibus
Quase em casa, foi parado pela polícia
Deve alguma coisa, vagabundo?
Não senhor, sou trabalhador.
Sei. Estamos de olho.
Chegou em casa
Largou as ferramentas
Tomou café preto com pão com manteiga
Estava prostrado
Sentou-se para assistir TV
Cinco filhos não permitiam seu sossego
A mulher na lida dos afazeres domésticos
Tomou um breve banho
Jantou: arroz, feijão e galinha
Foi para a cama
Onze horas da noite
Os filhos adormeceram
Rezou um Pai Nosso e uma Ave Maria
Deu uma rapidinha com a mulher
E dormiu, praticamente morreu
No outro dia, tudo se repetiu
E poderia ser pior
João poderia estar desempregado
E aí nem isso teria
Enquanto isso
O padre reza
O empresário enriquece
O político rouba
O estudante estuda
A prostituta trepa
O policial prende
O músico canta
A criança brinca
O bebê chora
Eu escrevo este poema
E você o lê

DLBJ

Um comentário:

  1. Braaaaaaaavo!!!!
    Braaaaaaaavo!!!!
    Braaaaaaaavo!!!!
    Bravíííssimo!!!!
    Mais um... mais um... mais um... mais um...

    É hora de dizer: bem, atendendo a milhões de pedidos... recitarei mais um. Chama-se Mamãe Querida.

    Mamãe Querida... meu coração por ti bate...

    _ Como caroço de abacate.

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