quinta-feira, 28 de julho de 2011

Poema Numérico

Matemática

Um homem se matou.
Dois homens faleceram.
Três homens pararam de respirar.
Quatro homens foram assassinados.
Mil homens morreram.
E pararam de sofrer.

Um homem foi trabalhar.
Duas mulheres foram trabalhar.
Três homens foram trabalhar.
Quatro mulheres foram trabalhar.
Cinquenta pessoas foram trabalhar.
E alguém ficou muito rico.

Uma mulher não pensou.
Um homem não pensou.
Uma mulher engravidou.
Uma criança nasceu.
O mínimo de dinheiro faltou.
E uma criança sofreu.

Um político roubou.
Dois políticos roubaram.
Três políticos roubaram.
Dezenas de partidos se aliaram.
Quinhentos políticos corromperam.
E muito dinheiro sumiu.

Um homem mandou matar.
O mesmo homem humilhou.
O mesmo homem explorou.
O mesmo homem estuprou.
O mesmo homem foi prestigiado.
E outro foi preso em seu lugar.

Uma pessoa foi enganada.
Duas pessoas foram iludidas.
Três pessoas foram ludibriadas.
Milhares de pessoas foram trapaceadas.
Milhões de pessoas foram logradas.
E as televisões foram desligadas.

Uma pessoa chegou ao hospital.
Duas pessoas chegaram ao hospital.
Cem pessoas chegaram ao hospital.
Trezentas pessoas chegaram ao hospital.
Dez médicos não chegaram ao hospital.
E vinte pessoas morreram no hospital.

Uma criança entrou na sala de aula.
Duas crianças entraram na sala de aula.
Três crianças entraram na sala de aula.
Quarenta e oito crianças entraram na sala de aula.
Uma professora entrou na sala de aula.
E ninguém aprendeu nada.

Uma merenda não foi servida.
Duas escolas não foram erguidas.
Três postos de saúde não foram construídos.
Quatro estradas não foram concluídas.
Milhões de pessoas não foram atendidas.
E uma quantia incalculável foi depositada em uma conta nas Ilhas Cayman.

Um carro foi montado.
Duas usinas atômicas foram expandidas.
Três fábricas foram inauguradas.
Milhões de pessoas venderam.
Bilhões de pessoas consumiram.
E um planeta foi destruído.


DLBJ

2 comentários:

  1. Nossa! Muito profundo o poema... Senso-comum, mas gostei pra caramba!!!!

    Beijos, professor!

    ResponderExcluir
  2. Moro... num país tropical...
    abençoado por Deus...
    e bonito por natureza...
    Mas que beleza!

    Moro... num país sem igual...
    onde o pobre reza "pra" Deus...
    e para o rico xuxu-beleza...
    Mas que tristeza!

    ResponderExcluir